terça-feira, 12 de janeiro de 2010

O calor tomou conta de mim, me atacou de preguicite aguda... portanto posto abaixo uma crônica do Conselheiro X em referência ao calorzão. Tem coisas que não concordo, mas vai aí abaixo esse olhar:

"Calor infernal e resfriamento global
Nove horas da manhã e o calor já é infernal em Porto Alegre. Considerando que na verdade são oito horas, já que nos roubaram uma hora por conta do famigerado horário de verão, considerando isso, dá pra dizer que o período da tarde vai ser tenebroso.

Transpiro às bicas, como sempre. Talvez seja um distúrbio hormonal, sei lá, mas sempre foi assim. As pessoas se impressional como o nível do meu suor, especialmente na testa. Felizmente não transpiro nas axilas - acho danado aquelas manchas de suor na camisa que exibem alguns homens, e que dá uma idéia de sujeira e de falta de higiene.

Dizem que suar é bom - é bom suá etc. Dizem que elimina toxinas, tira a sujeira do organismo pra fora, mas esses dias ouvi um médico dizer que não é nada disso, que suor é só água e bla-bla-bla. Pois acredito sim que o suor elimina detritos do nosso organismo.

Por exemplo, quando bebo muita cachaça com biter, a pele dos meus braços fica cheirando a biter. Verdade. E quando bebo cachaça com menta - como bebia lá na serra - a pele, um dias depois, se não tomasse banho, é verdade, ficava cheirando a menta.

Culpa do meu organismo peculiar e também - especialmente - do verão de Porto Alegre, um verãoamazônico, úmido, que desejo apenas aos meus inimigos. Ficar na cidade nesta época do ano é só para dois tipos de gente: os que têm que ficar, por compromissos, e os pelados, os fudidos, que não têm grana para cair fora - ir à praia ou à serra. Que clima, o nosso: deu um inverno rigoroso, e agora este calor "senegalesco", como se dizia não faz tanto tempo.

A cidade já está esvaziando, e vai ficar ainda mais deserta depois do dia primeiro. Não gosto de verão (já gostei, confesso) porque ele acaba comigo, me tira o ânimo, me desfaz por inteiro. É a época dos mosquitos, das baratas, das moscas, dos ratos. O inverno, no meu entender, é a realidade - o verão não é real, tudo sai do ritmo. E o verão, nesta época, não significa só suor e indisposição como aquelas coisas abomináveis: musiquinhas de Natal, propagandas babacas falando em felicidade, em realização de sonhos, em solidariedade, Papai Noel, gente gastando o que não tem, as abomináveis reuniões familiares em que tudo acaba mal etc.

A tevê, por exemplo, se transforma em filmes idiotas, em notícias fabricadas, sem falar que logo vem o tal do Big Brother. Esse sim é de lascar - a gente muda de canal e não adiante, tem a tal da A Fazenda e outras porcarias do ramo. Pior: logo vem os sambas enredos e os clipes das escolas de samba do Rio e até de Porto Alegre.

Hoje de manhã, como sempre, liguei nas rádios AM e tinha um cientistas, que não era daqui, falando no aquecimento global, no efeito estufa, na conferência de Copenhague, no CO2. O cara, para surpresa de todos, disse que isso tudo é balela, é jogada política, que o CO2 não interfere bosta nenhuma no clima e que na realidade estamos vivendo uma época de resfriamento do planeta. Isso mesmol: nada de aquecimento e sim de resfriamento. Até achei que faz sentido. Só que nenhum coleguinha entrevistador, até onde eu ouvi, fez a pergunta elementar: se a terra não está aquecendo e sim resfriando por que é que as geleiras dos pólos estão derretendo? Pergunta elementar, mas não fizeram. Quer dizer que a Terra está esfriando e os pólos estão derretendo e os oceanos subindo?

Jornalismo, por aqui, é feito por uns caras fraquinhos. E os melhorzinhos, ou menos ruins, são de uma vaidade e auto-suficiencia tão grande que a gente se enfara. Vejam o caso daquele Diego Casagrande e do outro - o que fala grosso e depois faz vozinha de falsete. Felipe, se nãome engano. Os caras são passáveis mas enojam a gente lendo as "mensagens" e os torpedos dos ouvintes elogiando eles próprios. Os caras não tem o mínimo pudor de ler coisas tipo "vocês são maravilhosos", "este programa é espetacular", "Você é o melhor jornalista do Rio Grande", e por aí afora. Caramba, será que não poderiam pegar mais leve, fazer como aquele radialista de São Paulo, o Cláudio Zaidan, que lia o nome do ouvinte e agradecia "as considerações". Bem assim: não lia o elogio, só "agradecia as considerações". Fica bem melhor, eu acho.

O Rio Grande, no fundo, é uma capelinha de caipiras, se é que dá pra usar o termo. É naquela base do "você me elogia que eu te elogio". Na área cultural, então, a coisa é incrível. Aquele Ruy Carlos Ostermann, que chamam tanto de "professor" pra cá, professor prá lá, tem um programa na Rádio Gaúcha em que todos os entrevistados são tratados como gênios e todo mundo que é citado é considerado maravilhoso. Além disso o cara é afetado, cheio de exclamações e de "meu querido". É um paetê só. Talvez esse Professor até seja boa gente, mas acho que ele, no fundo, não passa de um enrolador e de um afetado. Um enganador. E todo mundo aceita. É o queridinho do meio cultural. Pois é - é a cara do gaúcho portoalegrense e da sua "cultura". Isso dá mais assunto e vai longe. Deixa pra lá. (Conselheiro X.)"