terça-feira, 25 de maio de 2010

Adélia Prado

Adélia Prado











Com licença poética










Quando nasci um anjo esbelto,


desses que tocam trombeta, anunciou:


vai carregar bandeira.


Cargo muito pesado pra mulher,


esta espécie ainda envergonhada.


Aceito os subterfúgios que me cabem,


sem precisar mentir.


Não sou feia que não possa casar,


acho o Rio de Janeiro uma beleza e


ora sim, ora não, creio em parto sem dor.


Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.


Inauguro linhagens, fundo reinos


— dor não é amargura.


Minha tristeza não tem pedigree,


já a minha vontade de alegria,


sua raiz vai ao meu mil avô.


Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.


Mulher é desdobrável. Eu sou.




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